Era 2010, eu sabia que precisava de um tempo pra saber quem eu era. Reconhecia estar vivendo submetida ao que velha Carol, já não tão viva, achava que era certo para si. A Carol mais atual já sabia que viver daquele jeito não fazia sentido. Como seguir minha vida de um jeito que fizesse sentido pra mim?
Naquele tempo, eu não tinha muito repertório de futuros desejáveis e vidas bonitas possíveis.
Seguindo minha intuição e agradecendo aos caminhos que se abriram, botei a mochila nas costas e fui de encontro a mim mesma. No ano seguinte, por 10 meses, experimentei possibilidades e sensações que não sabia que eram possíveis. Ampliei meu enxergar.
A jornada começou em Israel, uma terra sobre a qual aprendi muito na escola, por vir de ascendência judaica. Voluntariei no Kibbutz Lotan, uma comunidade no meio do deserto que pratica os princípios da permacultura. Depois fui para Neot Semadar, outro kibbutz (forma de comunidade comunitária que só existe em Israel), que praticava meditação na ação, atenção completa ao que se faz.
Eu, que passava meus dias maquiada de salto alto trabalhando nos shoppings da cidade, passei a viver de botina levantando estruturas com bioconstrução, lama e palha na mão. Eu, que ouvia sons constantes na cidade grande, estava ouvindo o som do silêncio no deserto.
Vivi naquele tempo um choque: era possível viver de um jeito diferente.
As crianças corriam livres pela comunidade, cuidadas por todxs. Almoçávamos e jantávamos todxs juntxs, às vezes 300 pessoas em completo silêncio, comendo a comida que eu havia colhido com os outros voluntários. Colher no deserto. Cuidar das cabras, atender turistas no restaurante na beira da estrada. Tecer diálogos significativos sobre a vida com desconhecidos. Ir até o armário coletivo pegar calças compridas pra trabalhar a terra.
Servir.
Mesmo nos lugares mais áridos havia vida, muita vida.
Havia gente comprometida em viver bonito, em regenerar.
Vivi tempestades no deserto, ouvi sobre corações de soldados, plantei espirais de ervas com fezes de cabra, brinquei com crianças em língua inventada, li meu primeiro livro sobre educação democrática — Sumerhill — e tive a certeza: não estou sozinha.
Eu, que antes estava perdida, me reconheci buscando.
O que antes era uma certeza irracional de que era possível se engajar na construção de um paradigma mais sustentável virou experiência vivida. Nada foi como antes.
E por aí? Quais são as vivências que fizeram com que tudo mudasse?
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