Estar na natureza faz a mente silenciar. Acabo observando com mais presença os (muitos) pensamentos (insanos) que passam. Me flagro pensando em cada coisa…Meu inconsciente acaba deixando escapar umas pérolas.
Observando a floresta, me peguei pensando que as árvores — e pessoas — que recebem a maior incidência de sol são as mais talentosas, as que cumprem sua função com mais maestria. “Eita, como assim, Carol? Sério que você acha isso?”, eu mesma me perguntei. E, a partir da consciência do que meu inconsciente deixou escapar, fui deixando que a própria floresta me mostrasse o que eu precisava enxergar.
Fiquei em silêncio observando… Algumas espécies recebem mais incidência de luz que outras, realmente. É a chamada estratificação na agrofloresta: a disposição vertical da vegetação, relacionada à exigência luminosa das plantas. As espécies com maior necessidade de luz a buscarão, naturalmente alcançando o estrato mais alto, enquanto aquelas com menor exigência ficarão mais embaixo.
Pupunha, bananeira e cacaueiro não recebem a mesma incidência de sol. Se o cacaueiro receber muito sol ou a pupunha pouco, nenhuma das duas vai ser bem sucedida em cumprir sua função. A função é o papel que a planta exerce dentro do ecossistema. Umas tem o papel de atrair fauna e potencializar a polinização, outras de armazenar água, promover o controle natural de pragas ou oferecer asilo a microorganismos benéficos para o sistema, entre outras.
Conosco é igual. Cada um de nós tem uma função no ecossistema. Alguns plantam, outrxs comunicam, outrxs maternam, cozinham, entretêm, embelezam, curam, ritualizam, limpam, documentam, organizam, cuidam… Cada um de nós nasce com uma função, uma maneira de servir à Terra. Cada função precisa de uma incidência específica de sol (exposição) para ser cumprida.
Alguns precisam de mais exposição, outros de menos. Na sociedade do espetáculo, me percebi inconscientemente achando que o reconhecimento vindo da exposição era uma métrica de sucesso no cumprimento da função individual. Só que não. Cada um de nós precisa de uma incidência específica de luz para exercer nossa função enquanto indivíduo no sistema.
Cada um de nós tem sua função na regeneração da Vida. Uma função específica, assim com a pupunha tem a dela, a bananeira a dela e a mandioca, idem. Assim como a bananeira dá banana, Carolina dá carolices. A bananeira precisa de recursos específicos pra dar banana, assim como eu e você precisamos de recursos específicos para exercer nossa função no sistema. Exposição é um desses recursos. Alguns de nós precisam de mais, outros menos.
Importante observar quando queremos buscar mais sol do que precisamos para cumprir nossa função.
O cacaueiro não se espicha mais do que o necessário pra ficar mais alta que a banana. Ele sabe que não precisa disso para cumprir sua função. Suas folhas vão acabar queimando, ele vai se ver gastando mais energia do que o necessário para gerenciar essa quantidade excessiva de exposição.
Ao nos percebermos fazendo esforço para aparecer, essa é a hora de perguntar: para quê quero aparecer? Estou a serviço de quê? Da função em si ou da necessidade de reconhecimento? É um limiar tênue, esse. Não há problema em buscar exposição se isso está a serviço da nossa função no sistema. Alguns de nós precisamos mesmo de mais exposição para podermos cumprir nossa função.
Alguns mais, outros menos.
Ao mesmo tempo, uma pupunha com pouco sol não prospera como poderia prosperar. O mesmo acontece conosco. Às vezes queremos receber menos sol do que precisamos para exercermos nossa função no sistema. Quando isso acontece comigo, me percebo com medo da responsabilidade que minha própria potência pede. Medo de me comprometer com minha própria função, preguiça de me colocar a serviço. Contudo, a pupunha não pensa: “melhor não receber tanta incidência de sol, vai me dar trabalho metabolizar tudo isso.” Ela sabe que pra exercer sua função no sistema ela precisa receber um montão de luz. E confia que tem internamente tudo o que é necessário para metabolizar o que for preciso.
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